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A queda do modelo taylorista no ecossistema mediático.

Qualquer gestor que se preze está familiarizado com o modelo taylorista de gestão. Um modelo desenvolvido pelo engenheiro norte-americano Frederick Taylor, baseado no aumento da eficiência através da especialização das tarefas, onde a racionalização do trabalho e a divisão das mesmas entre os colaboradores impera, com o objectivo de tornar “a máquina bem oleada”. Esta visão modelar tem sido dominante em diversas áreas. Uma visão que não tem sido indiferente no mundo da comunicação.

Durante anos assistimos ao crescer de ideias que fragmentavam a noção de profissional de Comunicação, das suas funções e das áreas em que actuam. Mas até que ponto os modelos de especialização estão adequados às exigências do mundo contemporâneo? E em que medida continuam a acrescentar valor para as organizações e marcas que servem? Se o mundo mudou, tornando-se menos modular, também a nossa área de actividade foi forçada a evoluir nesse sentido.

O panorama mediático alterou-se e as Relações Públicas deixaram de se limitar à assessoria de imprensa, assumindo definitivamente o seu posicionamento natural de Relações com Públicos, fazendo-o em diversos formatos, estejam eles on-line ou off-line. E confesso que tenho alguma renitência em usar estes dois termos, o on-line e o off-line. São heranças de uma era passada e que estão pouco adequadas às mudanças sociais que o avanço da tecnologia tem proporcionado. As fronteiras são cada vez mais difíceis de definir, isto se ainda existirem, pois os novos media já não são novos. Todos (ou quase) os media se encontram online de uma forma ou de outra e em breve “social media” deixará de ser uma palavra do nosso quotidiano. Passaremos a falar apenas de media, da mesma forma que deixámos de usar a expressão “a cores” para nos referirmos a uma televisão. A novidade em breve se tornará a norma e com ela a especialização em “social media” acabará extinta.

Um conjunto de alterações sociais estão em curso e a alterar a forma como organizações e marcas se relacionam com os seus diversos públicos. Algumas agências já perceberam e começaram a alterar a forma como entendem esta nova realidade mediática. Outras lutam com a sua própria cultura e identidade para se tentar adaptar a este novo mundo. Entretanto, uma nova geração de agências começa a surgir, nascida nesta nova era das Relações com Públicos, trazendo consigo o conhecimento de uma era que já acabou, mas que ainda não se apercebeu do seu final.

Pelo meio, alguns “especialistas”, que ainda não perceberam ou lutam pela auto-preservação, vão gritando que vieram para ficar e que ninguém pode acompanhar o seu conhecimento técnico das ferramentas. Mas aquilo que hoje ainda é uma vantagem competitiva, em breve será uma competência base da profissão. O que hoje ainda é para alguns uma função, passará a ser uma tarefa que todos terão de conseguir desempenhar. Isto porque a técnica se tornará numa questão de literacia base. Tal como hoje o domínio do e-mail, da escrita ou do computador são competências que estão no DNA de um profissional, o domínio dos Social Media seguirá o mesmo rumo. Será um dado adquirido em pouco tempo e pensar-se em qualquer tipo de especialização ou em comunicação digital será como pensar que se pode correr uma maratona coxo de uma perna.

Uma última palavra ainda sobre o taylorismo. Esta é uma teoria da era industrial, pensada em moldes de tarefas e operacionalização das mesmas, onde o colaborador não assume o papel de um sujeito activo e interpretativo do meio que o rodeia. Ora, a Comunicação não é uma actividade industrial, mas uma interpretação de realidades, que dificilmente pode ser retratada no célebre filme Modern Times de Charlie Chaplin. Assim sendo, qualquer organização ou marca que se preze não procura uma fábrica de comunicados de imprensa, anúncios ou logotipos, mas parceiros que acrescentem valor por entenderem como podem desenvolver mensagens chave que lhes permitem alimentar relações sustentáveis e de encontro aos seus objectivos de negócio. 

Quando assim é, Comunicação é entendida como uma forma de olhar o ecossistema, saber fazer este diagnóstico e aplicar a solução adequada aos diversos contextos. A teoria da especialização limita o entendimento que está na base da verdadeira proposta de valor nesta área.

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